Clarice Stabenow
3 min readMay 6, 2020

O Gato, ilustração feita por mim.
O Gato, ilustração feita por mim. Digital sobre tela. 06, Maio, 2020.

Eu sou Gato

Eu sou gato, mas sou gato vivido, gato que andou com outros gatos, gato que viveu com alguns humanos, mas que preferiu ser gato só. 7 vidas, 7 vidas bem gastas, 7 vidas que agora são apenas uma, mas é vida e por ser vida, precisa ser valorizada. Por enquanto, sou eu e eu, porém, quero ser mais que eu, quero ser eu e mais alguém, alguém que cuide de mim, entretanto, esse cuidado não pode sufocar, não pode prender, só deve cuidar.

Sabe? A história não é minha, quer dizer, não só minha. É minha e de mais outro, e ainda bem, pois queria realmente ser eu e mais alguém.

Quando nós somos miúdos, achamos que todos os nossos semelhantes serão amáveis e passíveis conosco e é bem aí que nos enganamos. Enganamo-nos muito mesmo. Gritamos bastante, sabe, gritamos até não termos mais força para gritar, mas nosso grito é abafado com outros barulhos, barulhos mesmo, nem música dá para ser e olha que eu conheço alguém que encontra música onde nunca imaginei encontrar.

Às vezes, queremos ajudar, nem sempre dá, nem sempre deu e aí nesse “não dar”, ficamos tristes, sem saber para onde, por que, ou quando. Alguns de nós não tem sorte, aquele ditado de “eira nem beira” é muito verdade, contudo, quem é que vai dar beira, quando antes disso tudo, devia ter atentado ao longo, antes do curto? O curto é curto e por ser curto, logo passa. Sinceramente, somos mais que isso, mais que o curto, ou mais que o longo, nós somos. Somos e apesar de sermos, esquecidos somos às somas, independente do resultado final.

Eu sou gato e mais alguém se chama Alb, nós nos esbarramos por essa vida de somas e sermos sobra, então decidi ser com Alb e Alb decidiu ser comigo. Nada melhor, eu por quem e quem por mim.

Gato e eu nos assemelhamos na nossa pequenez e não falo de pequenez medida, falo de pequenez imaginada pelo metro de cabeça alheia. Sofremos, passado e presente, no entanto, espero que o sofrer seja algo do antes e não mais do depois, tanto para mim, quanto para os outros.

Música é som que acalma. Som que bate no corpo ouvinte e faz bem, sem ver a quem. Vai e vem e vai quem quer, aonde e quando quiser e se quiser. Som é onda que não vemos nos afogar e nos carregar ao fundo do seu mar mecânico, suas engenhocas invisíveis nos puxam mais e mais, até percebermos que estamos submersos em água-fantasma.

Folha que beija o chão faz barulho, é beijo alto, estalado, arrastado, é música. Todo beijo é música, enamorados sempre terão suas únicas e fabulosas sinfonias.

Quando falei da pequenez minha e do gato, quis dizer, eu entendo o mundo, o gato entende o mundo, tu também entendes o mundo, contudo, são entendimentos diversos, dispersos, juntam-se por se entender em entender, sem necessariamente ser o que são para todos ao mesmo tempo. Pequenez minha e do gato? Pois eu acho muito mais pequenez, essa de contar que semente de melancia, se engolida, faz crescer pé de melancia na barriga e aí, cria-se um medo de melancia e da sua doçura.

Tudo tem semente. Cresce. Desenvolve. Frutifica. Morre. Morre? Tudo morre? Então, se tudo morre, qual a função do teu entender querer se caber em mim como regra e não como compreender? Além do seu, existe o meu e de mais alguém. De muitos outros alguém. Tudo é bem cheio do todo, só pequenez miúda, miúda, deixa ser parte de algo que é gigante de mais, a encaixar num minúsculo.

Gato e eu nos recusamos a ser pequenez da cabeça-metro de alheio, se não for para ser cabeça-nuvem, que voa-voa, desmancha e refaz em outro lugar, por favor, sem mencionar nossa pequenez, invés de ver a sua.

Eu e gato precisamos ser mais nós em outro lugar, porém, promete rápido que vais, ao menos, tentar compreender o ser cabeça-nuvem?

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