Eu sou Gato
Eu sou gato, mas sou gato vivido, gato que andou com outros gatos, gato que viveu com alguns humanos, mas que preferiu ser gato só. 7 vidas, 7 vidas bem gastas, 7 vidas que agora são apenas uma, mas é vida e por ser vida, precisa ser valorizada. Por enquanto, sou eu e eu, porém, quero ser mais que eu, quero ser eu e mais alguém, alguém que cuide de mim, entretanto, esse cuidado não pode sufocar, não pode prender, só deve cuidar.
Sabe? A história não é minha, quer dizer, não só minha. É minha e de mais outro, e ainda bem, pois queria realmente ser eu e mais alguém.
Quando nós somos miúdos, achamos que todos os nossos semelhantes serão amáveis e passíveis conosco e é bem aí que nos enganamos. Enganamo-nos muito mesmo. Gritamos bastante, sabe, gritamos até não termos mais força para gritar, mas nosso grito é abafado com outros barulhos, barulhos mesmo, nem música dá para ser e olha que eu conheço alguém que encontra música onde nunca imaginei encontrar.
Às vezes, queremos ajudar, nem sempre dá, nem sempre deu e aí nesse “não dar”, ficamos tristes, sem saber para onde, por que, ou quando. Alguns de nós não tem sorte, aquele ditado de “eira nem beira” é muito verdade, contudo, quem é que vai dar beira, quando antes disso tudo, devia ter atentado ao longo, antes do curto? O curto é curto e por ser curto, logo passa. Sinceramente, somos mais que isso, mais que o curto, ou mais que o longo, nós somos. Somos e apesar de sermos, esquecidos somos às somas, independente do resultado final.
Eu sou gato e mais alguém se chama Alb, nós nos esbarramos por essa vida de somas e sermos sobra, então decidi ser com Alb e Alb decidiu ser comigo. Nada melhor, eu por quem e quem por mim.
Gato e eu nos assemelhamos na nossa pequenez e não falo de pequenez medida, falo de pequenez imaginada pelo metro de cabeça alheia. Sofremos, passado e presente, no entanto, espero que o sofrer seja algo do antes e não mais do depois, tanto para mim, quanto para os outros.
Música é som que acalma. Som que bate no corpo ouvinte e faz bem, sem ver a quem. Vai e vem e vai quem quer, aonde e quando quiser e se quiser. Som é onda que não vemos nos afogar e nos carregar ao fundo do seu mar mecânico, suas engenhocas invisíveis nos puxam mais e mais, até percebermos que estamos submersos em água-fantasma.
Folha que beija o chão faz barulho, é beijo alto, estalado, arrastado, é música. Todo beijo é música, enamorados sempre terão suas únicas e fabulosas sinfonias.
Quando falei da pequenez minha e do gato, quis dizer, eu entendo o mundo, o gato entende o mundo, tu também entendes o mundo, contudo, são entendimentos diversos, dispersos, juntam-se por se entender em entender, sem necessariamente ser o que são para todos ao mesmo tempo. Pequenez minha e do gato? Pois eu acho muito mais pequenez, essa de contar que semente de melancia, se engolida, faz crescer pé de melancia na barriga e aí, cria-se um medo de melancia e da sua doçura.
Tudo tem semente. Cresce. Desenvolve. Frutifica. Morre. Morre? Tudo morre? Então, se tudo morre, qual a função do teu entender querer se caber em mim como regra e não como compreender? Além do seu, existe o meu e de mais alguém. De muitos outros alguém. Tudo é bem cheio do todo, só pequenez miúda, miúda, deixa ser parte de algo que é gigante de mais, a encaixar num minúsculo.
Gato e eu nos recusamos a ser pequenez da cabeça-metro de alheio, se não for para ser cabeça-nuvem, que voa-voa, desmancha e refaz em outro lugar, por favor, sem mencionar nossa pequenez, invés de ver a sua.
Eu e gato precisamos ser mais nós em outro lugar, porém, promete rápido que vais, ao menos, tentar compreender o ser cabeça-nuvem?