Por favor.
Senta, por favor, essa conversa vai ser um pouco dolorosa, tanto para mim, quanto para quem estiver lendo.
Pois bem, aqui estou escrevendo no embalar de músicas que recordam algo, o qual possivelmente nunca vivenciei, porém, dói. Já sentiu alguma coisa assim?
Já sentiu como se só tua dor importasse? Os outros até têm dores, mas a tua dor, aquela dor latejante, que perfura o titânio da alma… e convenhamos, nenhuma dor faria o mesmo, se não fosse a tua dor. A Dor. A palavra torna-se sacralizada, torna-se uma deusa, um ser etéreo. Faz-se um altar e a homenageia todos os dias, pois ela é importante de mais para ir embora, não há nada além dela, nada mais enaltecido que ela, e é aí onde perdemos o gosto pelo leve, o gosto por algo que não machuca.
O gosto por algo fácil de entender, o gosto por ser mais a gente e menos o que as dores nos fazem ser, o desperdício do nosso eu, derramando nas nossas fraquezas e fracassos, nosso obscuro torna-se nossa melhor cor e única cor. Cor? Que cor? Nada passa além de um monocromático inexistente e triste. Triste. T r i s t e z a, daquelas ardentes que nos fazem sentir cada célula do corpo se desmanchar em choro desabado em cima do colo contorcido.
Desatenção pela vida lá fora.
Orei aos céus pedindo que me desse força.
Reagi de tal forma, que não soube aonde fui parar. Parei onde menos queria. No fundo de algo que não sei bem o que seja, talvez, só aquilo que chamo de alma e, por sua vez, anda tão desnutrida, tão árida e embaçada. Espessa também, espessa de algo que me sufoca, sufoca tanto ao ponto de eu pedir socorro a alguém desconhecido. Desconhecido esse que julgo sorte ele escolher a morte ou a vida e a impor a mim.
Mas, parando para pensar, é bem possível que a solidão a qual me alimenta de desesperança, seja a solidão de mim mesmo. Sabe? A solidão a qual construí visitando outras almas e esquecendo que tinha uma. Esquecendo de que eu também era importante tanto quanto os demais, esquecendo de tudo o que eu tenho e tinha de bom, de que tudo vai além dessas desgraças todas que acontecem.
Quero estar pronto para um próximo fim, recomeço, meio e tudo de novo mais uma vez. Que o novo seja minha palavra de resistência e não de abandono. Eu quero estar para mim, por mim, em mim, todo dia, o tempo todo.
Sentir a minha própria existência pulsante.
Demorei, mas entendi.
O amar a si, envolve amar o outro olhando dentro de si.
Rir enquanto se chora é algo tão forte, que acontece durante uma fraqueza.
Estar vivo é tão pesado, ao ponto de pensar estar pesado por ser vivo, quando na verdade, estar vivo é apenas condição, nós que adicionamos nossas pedras colossais, sendo elas, inicialmente, minúsculas areias do mar.
Eu quero sentir a vida, assim como ela me sente.
Eu vou sentir tudo com tanta intensidade, que nada poderá me parar, a não ser minha própria vontade. A vontade que habita em mim, faz-me sentar e observar que sou além da minha solidão espessa e do profundo algum lugar em que me enfiei.
Senta, por favor, que essa história acontece tanto, que tu nunca paraste para pensar a respeito de como tu és vários e se sente apenas um, o qual carrega aparentemente sozinho, o peso compartilhado por outros mais que pensam de maneira igual.
Senta que a vida quer te dar um recomeço de presente.
Eu preciso ir, Alb quer tomar chá e quer companhia.
Agradeço a atenção, At.