Talvez eu ?
Talvez eu ultrapasse certos limites do carinho delimitado por sei lá quem e parece que ao fazer isso, põe-me em lugar de espera. Detesto ficar em espera. Ligação em espera. Fila de espera para atendimento. Inacreditável! Tanta evolução para se resumir em “por favor, espere um minuto” e suas músicas ambientes irritantes que parecem ter sido criadas com a intenção de despertar o ser mais raivoso em nossos corpos.
Aliás, amo estar em contato com superfícies geladas, pois transpassam um pouco de calmaria quando o dia está abarrotado de estresse esculpido em rostos amassados e sem expressão de vida, além da clássica emburrada.
Tanta falação alta para quê? Ninguém necessita de alto-falantes perto de seus ouvidos, qual o problema em tocar nos ombros e falar calmamente, ou de maneira vagarosa para que o outro entre na sua respiração comunicativa? É de se pensar que ao chegarmos ao ápice de nossa dita evolução, precisamos ainda nos comunicar de maneira tão prejudicial e falha quanto nossos antepassados. E eu nem vou detalhar cada falha notada durante esses anos de estadias viradas em dias e noites.
Saber que nosso tempo é maratonista profissional nos deixa um pouco desnorteados, não achas? Não importa muito quem, porém, todos nós temos e tivemos, — ah! Dor! -, tivemos mesmo? Sim. Outrem que outrora tanto nos significou. O gosto amargo do remorso em nossas mentes evocando aquele alguém que não está mais presente, isso nos machuca dia e noite. Temos a essência do eterno, mas o eterno não nos tem. É como um amor impossível, eu quero, outro quer, no entanto, há algo no meio impedindo nossas mãos de estarem atadas uma a outra para podermos entregar-nos a nosso amor volúvel.
O remorso que nos encurrala nos cantos emocionais mais obscuros da nossa frágil alma é tão recorrente, tão estampado em nossas faces, mas tão pouco entendido, abraçado para ser lido por inteiro.
Ele é assim, porque sequer paramos para refletir sobre nós, sobre o que somos, por que somos como somos? Para quem somos? Talvez. Qual a nossa maneira de estarmos com os outros ou para com eles? De que forma estamos sendo mais de nós para os demais? Será que somos suficientemente compreensíveis e, por que não, legíveis? Ergo minhas mãos em posição de redenção e explico-lhes o ponto no qual quero chegar; quero dizer, é possível não sermos explícitos tanto quanto deveríamos ser.
Parecemos ser acostumados a deixar fluir apenas sentimentos e pensamentos ruins, como se em realidade, precisássemos disso. Nunca paraste a fim de pensar sobre? É uma lata de sardinha em formato de emoções, e se por certo acaso, saímos dela, somos excluídos do resto. Somos considerados um erro emotivo, uma pessoa compassiva de mais, que se deixa levar pelo o que sente, dessa forma, todos os outros — pedra não querem os outros — flor.
Eu calei em muitos tempos, deixei de acariciar rostos amáveis que tanto me afeiçoei, deixei de elogiar quando achei bonito, incrível, maravilhoso, fantástico! Ah! Eu deixei, apesar de lembrar esses momentos, hoje faço quando sinto vontade, quando quero. Hoje necessito demonstrar, calar minhas emoções não mais me satisfaz. Há uma tênue linha de vida, a qual me separa dos outros — pedra, pois para ser outros — flor, um dia tive de viver e enxergar a vida como rocha dura, sem dissolução. Com a melhora das minhas ações decidi não deixar voltarem ser muro, e sim, permanecerem algodão.
Sinto-me triste quando ninguém fica perto de mim, quando corro para abraçar quem chegou e eles preferem os que estão calmos e sequer demonstram interesse. Por vezes, sinto um ciúme descontrolado e tento chamar atenção das piores maneiras que posso pensar, no entanto, não funciona. Não funciona com quem eu quero, por causa da essência deles, eles agem diferente, gostam daquilo que é livre e que não impeça ninguém de também demonstrar, então parei. Quando percebo alguma “ameaça”, afasto-me, analiso, é bobeira minha, eu sei, mas é meu lugar e mesmo que repitam incansavelmente de que sou insubstituível, ah! sinto insegurança, porque sei que todas as coisas são efêmeras e com isso, eu também.
Na verdade, eu só queria deixar boas lembranças a meu respeito, nada que passando pela mente doa a alma, mas apenas alegre o rosto. E quero que o mesmo aconteça comigo em relação aos outros.
Pois bem, preciso ir ao encontro de Gato e Alb, temos questões importantíssimas a discutir sobre outros — flor e cabeças — nuvem, eles ainda estão escondidos pelas vielas interpostas nas rodovias coronárias.
Abraços, P.